sexta-feira, 24 de abril de 2015

Primeira evidência da presença de podoteca em dinossáurios não-avianos

Foi recentemente publicado, na revista Cretaceous Research, o estudo de impressões da pele associadas à extremidade posterior do holótipo de Concavenator corcovatus Ortega et al. 2010 descrito no Cretácico Inferior de Las Hoyas (Cuenca, Espanha). Devido à excepcional preservação do exemplar, este estudo permitiu reconstituir a estrutura das escamas que cobriam o pé deste terópode e compara-la com outras estruturas análogas descritas no registo fóssil, bem como com a presente em organismos actuais aparentados com os dinossáurios (aves e crocodilos).


















Pormenores da estrutura de diferentes padrões de escamas identificados no pé de Concavenator.





As conclusões deste trabalho permitiram reconhecer um padrão na estrutura da podoteca de Concavenator semelhante à que apresentam as aves actuais e distinta da presente em crocodilos e em dinossáurios saurópodes. Esta nova descoberta constitui a primeira evidência da presença de podoteca semelhante à das aves actuais em terópodes não-avianos, sugerindo que esta estrutura estaria já presente pelo menos nos membros do clado Avetheropoda. Por outro lado, esta nova evidência tem importantes implicações para os estudos do registo icnológico deste grupo de dinossáurios terópodes.


Mais informação:
Cuesta, E., Díaz-Martínez, I., Ortega, F., Sanz, J. L. (2015). Did all Theropods have chicken-like feet? First Evidence of a non-avian Dinosaur Podotheca. Cretaceous Research, 56: 53-59. DOI: 10.1016/j.cretres.2015.03.008

terça-feira, 7 de abril de 2015

Identificação de uma tartaruga com cresta no registo fóssil do Jurássico português


Durante o Jurássico Superior de Europa está identificado um grupo de tartarugas exclusivas deste continente: Plesiochelyidae. Estas tartarugas viviam em ambientes marinhos costeiros, já que as suas extremidades estavam bem adaptadas a esse meio, mas não para atravessar grandes massas oceânicas, como fazem as tartarugas marinhas actuais. Por esse motivo, estavam restringidas à Europa. Devido à sua estreita vinculação a esses ambientes costeiros, este grupo extinguiu-se no final do Jurássico, momento no qual ocorreram importantes alterações no nível do mar, afectando os ecossistemas em que viviam.

Os plesioquélidos são muito abundantes no registo europeu, onde estariam representados por vários táxones. De facto, os dois géneros melhor conhecidos, Plesiochelys e Craspedochelys, formam parte da fauna de répteis jurássicos identificados em Portugal. Conforme costuma ocorrer nas tartarugas, a região dorsal da sua carapaça tem forma de abóboda, sendo a de Plesiochelys notavelmente mais comprida que larga, mas reconhecendo-se como muito larga no caso de Craspedochelys. No entanto, existe um plesioquélido muito peculiar, até agora muito mal conhecido, descrito apenas na Europa Central. Trata-se de Tropidemys, uma tartaruga com uma curiosa carapaça, já que tem uma marcada cresta sagital que percorre desde a região anterior até à posterior. A informação sobre esta forma estava praticamente restringida à Suíça e Alemanha. Um trabalho recentemente publicado por Adán Pérez-Garcia (Investigador da SHN e do Instituto D. Luís da Universidade de Lisboa), aporta novos dados sobre a diversidade e distribuição paleogeográfica de Tropidemys. Por um lado, Tropidemys é reconhecida na Grã-Bretanha, propondo-se uma nova combinação (Tropidemys blakii), correspondente a uns fósseis já descritos, de maneira muito preliminar, há cerca de um século e meio, mas até agora geralmente ignorados. Por outro, Tropidemys é reconhecido em Portugal. Concretamente, identificou-se um exemplar procedente de Praia Azul (Torres Vedras), nas colecções paleontológicas da SHN. Assim, não só se reconhece uma ampla área de distribuição para Tropidemys, mas também que se regista uma elevada diversidade de tartarugas marinhas litorais no Jurássico Superior de Portugal e, mais concretamente, nos níveis sedimentares de Torres Vedras.

Abstract
The record of coastal marine turtles belonging to Plesiochelyidae is abundant in the Late Jurassic of Portugal. The material analyzed thus far has been attributed to two taxa: Plesiochelys and Craspedochelys. A specimen is presented here that allows extending the known diversity of Portuguese Jurassic turtles. It is attributed to Tropidemys. Although this taxon is relatively well known in the Kimmeridgian record of Switzerland and Germany, no specific allocation performed outside these countries can be, so far, confirmed. The detailed study of the poorly known British taxon “Pelobatochelysblakii allows its specific validity to be confirmed here, being recognized as a member of Tropidemys. The revision of this species and the analysis of the new Portuguese specimen allow extending the knowledge regarding the genus Tropidemys.


Referencia: Pérez-García, A. 2015. Revision of the British record of Tropidemys (Testudines, Plesiochelyidae) and recognition of its presence in the Late Jurassic of Portugal. Journal of Iberian Geology 41: 11-20.