segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dinossauros de Portugal: breve síntese

A ALT-Sociedade de História Natural tem ao seu cuidado uma das maiores colecções paleontológicas de vertebrados do Jurássico Superior de Portugal, fruto de uma década de intervenções na região Oeste, em particular no Concelho de Torres Vedras.

O registo de restos directos de dinossauros de Portugal tem mostrado, nos últimos anos, que pode ser muito relevante para o conhecimento de distintos aspectos da historia evolutiva do grupo e, dada a posição da Península Ibérica, para a interpretação da distribuição de alguns dos seus componentes. O registo fóssil português conta com representantes de quase todos os grandes grupos de dinossauros (ornitópodes, tireóforos, terópodes e saurópodes) que são abundantes em alguns níveis sedimentares da Bacia Lusitana, sobretudo no Jurássico Superior (Kimmeridgiano-Titoniano) e que estão bem representados na Colecção de Referência da ALT-Sociedade de História Natural. As zonas de Torres Vedras, Batalha, Pombal e Lourinhã têm registado nos últimos anos várias ocorrências. O conjunto de ornitisquios está composto por tireóforos, dos quais que se identificaram restos de três estegossaurios (Dacentrurus, Miragaia y Stegosaurus, em Torres Vedras, Batalha e Lourinhã) e um anquilossaurio com atribuição segura: Dracopelta.  Dracopelta é um dos anquilossaurios mais antigos que se conhecem e é o único descrito até ao momento no Jurássico Superior da Península Ibérica. O seu registo restringe-se a um único exemplar procedente da Formação do Freixial (Titoniano), da Praia do Sul (Torres Vedras).
Neste contexto geológico ocorrem ainda ornitópodes, como formas próximas aos tradicionais hipsilofodontideos e driosaurideos, e também mais frequentes camptosaurideos (Draconyx e Camptosaurus). Recentemente foi apresentado no III Congresso Ibérico de Paleontologia/XXVI Jornadas da Sociedade Paleontológica Espanhola, que decorreu de 7 a 10 de Julho na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, um novo exemplar do género Camptosaurus e desconhecido no registo fóssil da Península Ibérica, pertencente à Colecção de Referência da ALT-SHN, e proveniente da Praia da Corva (Torres Vedras). Esta ocorrência assume particular relevância no que concerne ao registo de faunas partilhadas em formações geológicas sincrónicas dos EUA (Formação Morrison) e Portugal (Bacia Lusitana).
A ocorrência de saurópodes está fundamentalmente composta por formas de eusauropodes basais (Lourinhasaurus), diplocodocoideos (Dinheirosaurus) e titanosauriformes (Lusotitan), representando formas endémicas de Portugal. Mas também se reconheceu recentemente a presença de um saurópode de distribuição ibérica, como Turiasarus, ficando por estabelecer a presença de algumas formas compartilhadas com o registo fóssil de dinossauros da América do Norte, como Camarasaurus. O conjunto de géneros de terópodes (carnívoros) portugueses está constituído pelo ceratossaurio Ceratosaurus, o espinossauroide Torvosaurus, pelos carnossaurios Lourinhanosaurus e Allosaurus, e pelo tiranossauroide Aviatyrannis (Leiria).
A presença de formas estreitamente relacionadas com faunas sincrónicas no registo norte-americano, em simultâneo com formas endémicas e outras partilhadas pelo registo europeu, situam a Península Ibérica como um interessante cenário biogeográfico, cuja interpretação, apesar do importante aumento de informação que se tem produzido nos últimos anos, está ainda muito dependente da interpretação das relações de parentesco de muitos grupos representados. Os terópodes Lourinhanosaurus y Aviatyrannis são, de momento, exclusivos da Península Ibérica e Ceratosaurus y Torvosaurus seriam formas partilhadas (pelo menos a nível genérico) com o registo sincrónico de América do Norte. A ocorrência de Allosaurus em Portugal é muito mais conclusiva. Surgindo inicialmente na jazida de Andrés, Pombal, um novo exemplar de Allosaurus (ALTSHN-0019) foi descoberto em Torres Vedras, nas arribas da Praia de Cambelas, e cujo pé direito se pode ver actualmente na DINOEXPO em Castelo Branco.  A descrição destes exemplares constitui a primeira referência robusta de um allossaurídeo na Europa, do género fora da América do Norte e de uma espécie de dinossauro partilhada entre a Europa e os EUA. Os restos de Allosaurus conhecem-se bem nas camadas sincrónicas da Formação Morrison nos Estados Unidos, mas o achado dos exemplares portugueses sugere uma distribuição mais ampla da espécie ao largo da Laurasia. Esta presença de faunas partilhadas levam a supor a existência de uma ligação terrestre, pontualmente emersa ao largo do proto - Atlântico Norte, e que permitiria o intercâmbio de dinossauros entre os dois continentes. 

O presente texto é parte integrante do guião da exposição DINOEXPO, patente em Castelo Branco, referente aos materiais osteológicos da Colecção de Referência da ALT-SHN cedidos temporariamente para o evento, e é da autoria de membros do Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia: Francisco Ortega, Bruno Camilo Silva, Elisabete Malafaia, Fernando Escaso e Adán Pérez Garcia.  


Para mais detalhes e abrangência sobre as faunas do Jurássico superior de Portugal, deixamos a referência dos seguintes artigos:


Ortega, F.; Escaso, F.; Gasulla, J.F.; Dantas, P.; Sanz, J.L.(2006): Dinosaurios de la Peninsula Ibérica , Estudios Geológicos, 62 (1), 219-240.

Cetáceos fósseis no III Congresso Ibérico de Paleontologia/XXVI Jornadas da SEP

No seguimento das comunicações apresentadas no III CIP/XXVI Jornadas da SEP, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, colocamos aqui mais informações sobre trabalhos por nós apresentados, desta vez sobre material de Cetáceos do Miocénico de Portugal. Os exemplares alvo de abordagem pertencem à colecção do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa.

Aqui vai a informação de referência às comunicações: 

Crânios fósseis de cetáceos (Mysticeti, Cetotheriidae) do Museu Nacional de História Natural, Lisboa: um breve enquadramento histórico
Cetacean fossil skulls (Mysticeti, Cetotheriidae) of National Museum of Natural History, Lisbon: a brief historical background

P. Mocho1,2 e L. Póvoas3

1 Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural, TORRES VEDRAS, PORTUGAL
2 Departamento de Geologia, Universidade de Lisboa, LISBOA. PORTUGAL. pedromochogeofcul@hotmail.com
3 Museu Nacional de História Natural (MNHN), Universidade de Lisboa, LISBOA. PORTUGAL. lipovoas@fc.ul.pt

Os crânios de cetáceos miocénicos, sediados no Museu Nacional de História Natural (MNHN) em Lisboa, constituem um registo fóssil de grande valor histórico. Tendo sido recolhidos na primeira metade do século XIX, deram origem a uma das primeiras referências, bem como às primeiras figurações de fósseis portugueses em estudos paleontológicos. Devido à sua importância na história da paleontologia em Portugal, e em particular na paleontologia de vertebrados, julgou-se pertinente realizar uma contextualização histórica destes exemplares.
Resumo: Três crânios fósseis de cetáceos das colecções do Museu Nacional de História Natural (Universidade de Lisboa), provenientes do Miocénico marinho português, foram recolhidos durante a exploração aurífera oitocentista que teve lugar na Adiça, entre a Fonte da Telha e a Lagoa de Albufeira. Dos três crânios colectados por Alexandre Vandelli restam apenas dois exemplares no MNHN (um crânio de Metopocetus e outro de Aulocetus), sendo desconhecido o paradeiro do terceiro. Existe ainda um crânio de Cephalotropis que provavelmente fora recolhido também na Adiça no mesmo período histórico. 

Palavras-chave: Alexandre Vandelli, Academia Real das Ciências, Cetáceos fósseis, exploração aurífero

Abstract: Three cetacean fossil skulls belonging to the collections of the National Museum of Natural History (Lisbon University), from the Portuguese marine Miocene, were collected during the 19th century gold exploitation, at Adiça, between Fonte da Telha and Lagoa de Albufeira. Only two skulls collected by Alexandre Vandelli are in MNHN collections (one skull of Metopocetus and another one of Aulocetus). The location of the third specimen is unkown. There is also a Cephalotropis skull, probably collected at Adiça, in the same historical period.

Key words: Alexandre Vandelli, Academia Real das Ciências, Adiça, gold exploitation, fossil cetaceans



Contribuição para a revisão sistemática de um crânio de Cephalotropis Cope, 1896 (Cetacea: Cetotheriidae) do Miocénico superior (Tortoniano inferior) da Adiça (Sesimbra, Portugal)
A contribution for the systematic study of a Cephalotropis Cope, 1896 (Cetacea: Cetotheriidae) skull, from the Upper Miocene (Lower Tortonian) of Adiça (Sesimbra, Portugal)

P. Mocho1,2 e L. Póvoas3

1 Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural, TORRES VEDRAS, PORTUGAL
2 Departamento de Geologia, Universidade de Lisboa, LISBOA. PORTUGAL. pedromochogeofcul@hotmail.com
3 Museu Nacional de História Natural (MNHN), Universidade de Lisboa (UL), LISBOA. PORTUGAL. lipovoas@fc.ul.pt

O crânio fóssil em foco possui importância para além do seu potencial científico, por se tratar de um registo de grande valor histórico recolhido muito provavelmente na primeira metade do século XIX. O presente estudo surge da necessidade de revisão e reavaliação de interpretações sistemáticas de estudos clássicos, já descontinuados, incidentes no crânio fóssil de Cephalotropis pertencente à colecção do Museu Nacional de História Natural (MNHN), em Lisboa. Ao contrário de estudos anteriores, este baseia-se em observações de carácter presencial.

Resumo: Este estudo apresenta-se como uma primeira abordagem no processo de revisão sistemática de um crânio de Cephalotropis pertencente às colecções do Museu Nacional de História Natural (Universidade de Lisboa). O exemplar recolhido no séc.XIX em terrenos do Miocénico superior (Tortoniano inferior) na região litoral da Adiça, apresenta características que o aproximam da espécie Cephalotropis coronatus do Miocénico superior de Maryland (E.U.A.), abrindo assim a possibilidade de um novo enquadramento sistemático, diferente do anteriormente proposto. 

Palavras-chave: Cephalotropis coronatus, Cephalotropis nectus, Cetotheriidae, Cetáceos, Miocénico

Abstract: This study constitutes a first approach to the systematic revision of a Cephalotropis skull belonging to the National Museum of Natural History (UL) collections. The specimen, collected during the 19th century in levels of the Upper Miocene (Lower Tortonian) from Adiça region, shows evidences that approximate it to the species Cephalotropis coronatus from the Upper Miocene of Maryland (USA). This leads to the possibility of a new systematic proposal different from the previous one.

Key words: Cephalotropis coronatus, Cephalotropis nectus, Cetotheriidae, Cetaceans, Miocene.




sábado, 17 de julho de 2010

Nova evidência de Ceratosaurus no Jurássico superior da Bacia Lusitânica

No seguimento dos posts anteriores (que saem em conta-gotas dado o volume de informação), apresentámos ainda uma comunicação que consiste em nova evidência de Ceratosaurus no Jurássico Superior da Bacia Lusitânica, apresentada no III Congresso Ibérico de Paleontologia e XXVI Jornadas da Sociedad Española de Paleontologia.
O exemplar, proveniente da jazida da Praia de Valmitão na região centro-ocidental de Portugal, está composto por um fémur esquerdo, uma tíbia direita incompleta e um fragmento da diáfise de uma fíbula. Estes restos apresentam um conjunto de caracteres similares aos conhecidos em algumas formas do género Ceratosaurus descritas na Formação de Morrison (EUA).
Ceratosaurus tinha sido já anteriormente descrito no Jurássico Superior português mas este registo é, até ao momento, muito fragmentário e está composto por restos craniais (dentes) e post-craniais, recolhidos em diferentes jazidas localizadas sobretudo na área do Município da Lourinhã, em sedimentos de idade Kimeridgiano superior – Titoniano inferior.
O conjunto de caracteres partilhados pelos exemplares portugueses e por outros membros do género Ceratosaurus do registo da Formação de Morrison incluem: 1) fémur com a extremidade proximal comprimida anteroposteriormente; 2) cabeça femoral dirigida anteromedial e ventralmente relativamente à diáfise; 3) fémur com uma superfície de inserção muscular em forma de impressão digital na superfície anterior do trocanter maior; 4) trocanter menor curto distoproximalmente (extremidade dorsal encontra-se significativamente abaixo do trocanter maior); 5) cresta trocanter bem desenvolvida na extremidade proximal do fémur; 6) fémur com a cresta mediodistal curta distoproximalmente (comprimento menor do que ¼ do comprimento da diáfise); 7) tíbia com a cresta cnemial que se projecta dorsalmente bem acima do nível dos côndilos medial e lateral; 8) tíbia com uma fossa lateral bem desenvolvida na extremidade proximal e delimitada por uma projecção que se desenvolve entre as crestas cnemial e fibular; 9) ectocôndilo (=côndilo lateral) não se encontra separado do corpo principal da extremidade proximal da tíbia; 10) processo ascendente do astrágalo curto distoproximalmente (inferido pela curta superfície da tíbia que representa a zona de suporte para este processo).
Os exemplares descritos na Bacia Lusitânica são as únicas evidências possíveis de identificar ao género de neoceratossáurios Ceratosaurus conhecidas, até ao momento, no Jurássico Superior fora da América do Norte.
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Imagem: Níveis sedimentares na praia da Corva / Valmitão nos quais foi encontrado o exemplar ALTSHN-VLM-02

Referência
Malafaia, E., Ortega, F., Escaso, F., Dantas, P. e Silva, B. 2010. Nova evidência de Ceratosaurus (Theropoda, Ceratosauria) no Jurássico Superior da Bacia Lusitânica (Portugal). Publicaciones del Seminario de Paleontología de Zaragoza (SEPAZ), 9: 157

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projecto de investigação VERT-JURA PTDC/CTEGEX 67723/2006 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras, empresa Ângelo Custódio Rodrigues S.A., Jurassic Foundation e Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. 

Análise preliminar de um novo camptosaurídeo do Jurássico superior de Torres Vedras, Portugal

No decorrer do III Congresso Ibérico de Paleontologia/XXVI Jornadas da SEP, que já referimos noutro post (sobre as tartarugas fósseis de Torres Vedras), apresentámos uma comunicação, que aborda de forma preliminar a presença de um ornitópode aff. Camptosaurus no Jurássico superior de Torres Vedras.
Os restos fósseis de dinossauros ornitópodes do Jurássico superior da Bacia Lusitânica (Portugal) são constituídos principalmente por restos cranianos, fundamentalmente dentes e, em menor número, elementos pertencentes ao esqueleto pós-craniano de distintos taxons. Geralmente, os restos atribuídos a ornitópodes de grande tamanho são relacionados com camptosaurídeos, uma linhagem exclusiva do Jurássico superior de Laurásia. Numa primeira aproximação realizada nos anos 80 do Séc.XX, os restos destes animais foram considerados membros do género Camptosaurus (Galton, 1980), mas após a descrição de Draconyx loureiroi (Mateus & Antunes, 2001), considerou-se todo o material português como pertencente a esta última espécie. Neste trabalho que apresentámos, analisam-se os restos osteológicos pertencentes ao esqueleto pós-craniano de um novo camptosaurídeo desconhecido no registo fóssil do Jurássico superior da Península Ibérica, procedente da  Praia da Corva (Concelho de Torres Vedras), Formação de Alcobaça, e pertencente à Colecção de Referência da ALT-Sociedade de História Natural.

Aqui fica o resumo em inglês:

Abstract: Portuguese Upper Jurassic ornithopod fauna is poorly known but remains of dryomorphan ornithopods are quite important in the Portuguese record. Within this clade only dryosaurids and camptosaurids are represented in the Late Jurassic, and these groups are present in Portuguese Jurassic beds. Among them, a unique camptosaurid species have been reported from Portugal, Draconyx loureiroi. Here a new camptosaurid specimen from the late Kimmeridgian beds of the Alcobaça Formation in Praia da Corva cliffs (Torres Vedras Municipality) is preliminarly described. The material consists of a partial skeleton including a posterior dorsal vertebra, a left scapula, and a right humerus, femur and calcaneum of an adult specimen. Several femoral features not shared with Draconyx loureiroi shows this camptosaurid as a new species, not known in Jurassic Portuguese dinosaur record yet. This material is provisionally assigned to the genus Camptosaurus.

Key words: camptosaurid, Camptosaurus, ornithopod, Upper Jurassic, Torres Vedras, Portugal
Palavras-chave: camptosaurídeos, Camptosaurus, ornitópodes, Jurássico superior, Torres Vedras, Portugal

Título da Comunicação:

Análisis preliminar de un nuevo ejemplar de camptosáurido del Jurásico Superior de Portugal.
A preliminary analysis on a new camptosaurid specimen from the Portuguese Upper Jurassic.

F. Escaso1,2, B. Silva2, F. Ortega2,3, P. Dantas2,4, E. Malafaia2,4, J.M. Gasulla1,2  y J.L. Sanz1,2

1 Unidad de Paleontología, Dpto. de Biología, Universidad Autónoma de Madrid. c./ Darwin 2, 28049 Madrid.fernando.escaso@uam.es
2 Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural. Apartado-25, 2564-909 Torres Vedras.
3 Grupo de Biología, Dpto. de Física Matemática y de Fluidos, Facultad de Ciencias, UNED. Senda del Rey 9, 28040 Madrid.
4 Museu Nacional de História Natural (Universidade de Lisboa). Rua da Escola Politécnica 58, 1250-102 Lisboa.

Outras referências:
Galton, P.M. (1980): European Jurassic ornithopod dinosaurs of the families Hypsilophodontidae and Camptosauridae. Neues Jahrbuch für Geologie und Paläontologie, Abhandlungen, 160(1): 73-95.
Galton, P.M y Powell, H.P. (1980): The ornithischian dinosaur Camptosaurus prestwichii from the Upper Jurassic of England. Palaeontology, 23: 411-443.
Mateus, O. (2007): Notes and review of the ornithischian dinosaurs of Portugal. Journal of Vertebrate Paleontology, 27: 114A.
Mateus, O. y Antunes, M.T. (2001): Draconyx loureiroi, a new Camptosauridae (Dinosauria: Ornithopoda) from the Late Jurassic of Lourinhã, Portugal. Annales de Paleontologie, 87(1): 61-73.
Norman, D.B. (2004). Basal Iguanodontia. in: The Dinosauria, Second Edition (D.B. Weishampel, H. Osmólska y P. Dodson, eds.). University of California Press, Berkeley, 413-437.
Ortega, F., Malafaia, E., Escaso, F., Pérez García, A. Y Dantas, P. (2009): Faunas de répteis do Jurásico Superior de Portugal. Paleolusitana, 1: 44-45.

  Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do projecto de investigação VERT-JURA PTDC/CTEGEX 67723/2006 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, e com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras e da empresa Ângelo Custódio Rodrigues, S.A.  

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quelónios de Torres Vedras no III Congresso Ibérico de Paleontologia/XXVI Jornadas da SEP

Entre os dias 7 e 10 de Julho, celebrou-se em Lisboa o III Congresso Ibérico de Paleontologia, coincidindo com as XXVI Jornadas da Sociedade Espanhola de Paleontologia, que decorreram na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (vide posts anteriores sobre a organização conjunta deste congresso neste blogue). Os trabalhos ali apresentados trataram de temáticas muito variadas, resultantes de investigações de portugueses e espanhóis. Assim, apresentaram-se vários trabalhos referentes a tartarugas fósseis, analisando-se num deles exemplares do Jurássico Superior de Portugal, concretamente do Concelho de Torres Vedras e pertencentes á Colecção de Referência da ALT-Sociedade de História Natural (ALT-SHN).

O registo de vertebrados fósseis do Jurássico Superior de Portugal é muito abundante. Ainda que os dinossauros tenham sido os mais estudados, outros grupos de répteis, que têm recebido menos atenção, estão também bem representados. Um desses grupos são os quelónios e, ainda que o seu estudo esteja numa fase muito inicial, já se identificaram várias famílias que habitavam diversos ambientes. No Concelho de Torres Vedras são muito abundantes os sedimentos da bacia Lusitânica datados do Jurássico Superior, mais concretamente no lapso Kimmeridgiano-Titoniano. Nesses sedimentos têm-se identificado numerosos restos de tartarugas, desde elementos isolados a exemplares relativamente completos. Reconhecem-se representantes de dois grupos de Pancryptodira: Pleurosternidae e Plesiochelyidae. Ainda que se tenha registado a ocorrência de Pleurosternidae em vários afloramentos de Torres Vedras, destacam-se os achados realizados no Kimmeridgiano superior de Santa Rita (Maceira) descobertos e escavados em 2003. O material pertencente a pleurostérnidos previamente reconhecidos na Península Ibérica eram até ao momento compostos por restos desarticulados e isolados. Não obstante, neste afloramento recolheu-se material articulado ou com ligeira dispersão, identificando-se um carapaça relativamente completa, a qual se atribui a um novo grupo.

Plesiochelyidae, grupo endémico do Jurássico europeu, está representado em Torres Vedras por numerosos exemplares desarticulados mas também por algumas carapaças que preservam uma alta percentagem dos seus elementos. É o caso, por exemplo, de um exemplar procedente do Titoniano de Ulsa (Cambelas). Este exemplar, interpretado como um indivíduo adulto ou sub-adulto possui umas placas relativamente grossa e carece de fontanela plastral central. Em vários afloramentos de Torres Vedras acharam-se placas plastrais grossas e sem fontanelas, com uma morfologia similar ao do exemplar da Praia da Ulsa, junto com outras também atribuídas a Plesiochelyidae que, com um tamanho similar, têm muito menor espessura e apresentam os bordos de uma fontanela hio-hipoplastral bem desenvolvida. Comparando as placas de ambos os morfótipos de tamanhos similares, as notáveis diferenças na espessura e a correlação da presença de amplas fontanelas, assim como as diferenças morfológicas, permitem a interpretação que ambas não pertençam a um único taxón.

O estudo do material da Colecção de Referência da ALT-SHN e a revisão do restante material português não só permitirá conhecer a diversidade de quelónios do Jurássico Superior de Portugal, mas também integra-lo no contexto paleobiogeográfico ibérico e europeu.

Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do projecto de investigação VERT-JURA PTDC/CTEGEX 67723/2006 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, e com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras e empresa Ângelo Custódio Rodrigues, S.A.

Referencia: Pérez-García, A., Ortega, F. y Silva, B. 2010. Análisis preliminar de la diversidad de quelonios del Jurásico Superior de Torres Vedras (Portugal). Publicaciones del Seminario de Paleontología de Zaragoza (SEPAZ), 9: 235-238.

Palavras-chave: Jurássico superior, Torres Vedras, tartarugas, Pleurosternidae, Plesiochelyidae

Keywords: Upper Jurassic, Torres Vedras, turtles, Pleurosternidae, Plesiochelyidae

Em ultima análise, foi um grande encontro, pelo que damos os nosso parabéns à organização (que acreditamos ter sido  super complexa) e pela forma maravilhosa em que tudo funcionou. Esperamos novos congressos....contem connosco!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Notas sobre Turiasaurus ibéricos_Referencias Portuguesas da Colecção da ALT-Sociedade de História Natural

Um novo registo sobre a fauna de dinossauros saurópodes do Jurássico Superior de Portugal , baseado em dentes destes animais da Colecção de Referência do Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural (Torres Vedras) foi apresentada no 8th Annual Meeting of the European Association of Vertebrate Palaeontologists celebrado na cidade francesa de Aix-en-Provence e acolhido pelo Muséum d’Histoire Naturelle d’Aix-en-Provence. Neste trabalho é ampliado o número de jazidas portuguesas nas quais se identificaram restos atribuíveis ao saurópode Turiasaurus.
Este trabalho é da co-autoria de investigadores do Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural da ALT-SHN, Grupo de Biologia da Faculdade de Ciências da UNED (Madrid), Fundación Conjunto Paleontologico de Teruel-Dinópolis e Unidad de Paleontologia, Departamento de Biologia da Universidad Autonoma de Madrid.

Eis o resumo (em inglês) sobre a comunicação que apresentámos (seguramente que a apresentaremos em português brevemente):

 "The Portuguese Upper Jurassic sauropod fauna is to date constituted by four species including Lourinhasaurus alenquerensis, Dinheirosaurus lourinhanensis, Lusotitan atalaiensis and Turiasaurus riodevensis. In addition, material closely related with Morrison sauropods, such as Camarasaurus and Apatosaurus, have also been cited. Here, two isolated sauropod teeth from the upper Kimmerigian beds of Praia da Corva (Praia da Amoreira-Porto Novo Member of the Alcobaça Formation, Lourinhã Group) and the Tithonian beds of Cambelas (Freixial Formation, Lourinhã Group) from the Torres Vedras Municipality are discussed. The teeth have the morphology assigned to Turiasauria (Turiasaurus and Neosodon): heart-shaped, spatulated and asymetrical maxilar or dentary crowns and enamel ornamented by numerous small bumps and wrinkles. Furthermore, their lingual and labial sides possess a central ridge that is weaker in the lingual side, but conspicuous in the labial side. This lingual character reminds of Turiasaurus teeth rather than Neosodon tooth, with a flat lingual face. The only known species of Turiasaurus was described from the Villar del Arzobispo Formation at Barrihonda–El Humero site in Riodeva (Teruel, Spain), that are middle Tithonian to lower Berriasian in age. Turiasauria had been described previously in Portugal with a tooth from S. Martinho do Porto and, recently Turiasaurus has been documented in early Tithonian beds, relatively synchronous with Cambelas beds. The new teeth assigned to Turiasaurus increase its stratigraphical and geographical range, making it one of the sauropod genera with a broader record in the Upper Jurassic of the Iberian domain."

domingo, 4 de julho de 2010

Tartarugas fósseis da Península Ibérica no III International Palaentological Congress_relevância para novo táxon de Torres Vedras

Celebrou-se de 28 de Junho a 3 de Julho um evento paleontológico de grande relevância mundial. Tratou-se do III Congresso Internacional de Paleontologia (III International Palaentological Congress), ao qual acederam centenas de paleontólogos de todo o mundo (inclusive alguns de nós….apesar da maldita crise…!) e que decorreu em Londres. As comunicações, posters, workshops ou conferencias trataram de temáticas muito variadas e, devido a serem muito numerosas, ocorreram várias em simultâneo em distintas salas do Natural History Museum, Imperial College e Royal Geographical Society. Esta foi a primeira vez que tal encontro se realizou na Europa, tendo-se celebrado o primeiro na Austrália (2002) e o segundo na China (2006). Londres é uma das cidades europeias onde a paleontologia tem estado historicamente mais enraizada, pelo que se considerou uma sede idónea para a celebração deste Congresso.
Foram numerosos os trabalhos apresentados referentes à paleontologia de vertebrados, estando bem representados os répteis. Não obstante, nesta ocasião os estudos sobre as tartarugas fósseis tiveram pouca representação, estando restringidos a dois trabalhos, sobre exemplares da Península Ibérica e da autoria de Investigadores Efectivos do Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-SHN (LPP/ALT-SHN): Adan Perez Garcia e Francisco Ortega.
Num deles apresenta-se um novo taxón, procedente do Jurássico Superior de Torres Vedras, Portugal, da Colecção de Referência do LPP da ALT-SHN. Trata-se de um novo membro de um grupo de quelónios com representantes norte-americanos e europeus. No entanto, este novo género parece estar mais próximo ao taxón europeu Pleurosternon do que aos representantes americanos. Dado que o género Pleurosternon se definiu mediante material britânico e a que uma alta percentagem do material atribuído a este taxón está depositado no Natural History Museum, o III Congresso Internacional de Paleontologia pareceu-nos o local propício para apresentar este novo representante. 

Referencia: Pérez-García, A. and Ortega, F. The more ancient pleurosternid genus (Chelonii, Paracryptodira) recorded in Europe. Abstracts of the Third International Palaeontological Congress: 312-313.

Um segundo estudo referente à sistemática, diversidade e implicações paleobiogeográficas das tartarugas que formam parte da colecção paleontológica de Salas de Los Infantes (Espanha), todas elas provenientes de várias formações e localidades da Bacia de Cameros Occidental (Espanha), apresentado por alguns dos investigadores do primeiro estudo mencionado, e membros do LPP/ALT-SHN.

Referencia: Pérez-García, Adán, Murelaga, Xabier, Torcida Fernández-Baldor, Fidel and Huerta, Pedro. 2010 High diversity of turtles in the Cretaceous of the Western Cameros Basin (Burgos, Spain). Third International Palaeontological Congress: 312.