segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Escavação paleontológica de emergência sobre uma baleia fóssil, em Lisboa

Escavação das mandíbulas
Decorreu no passado mês de Junho uma Sondagem Paleontológica de Diagnóstico, com carácter de emergência, que visou a detecção e salvamento de restos osteológicos de uma baleia fóssil, no Miocénico de Lisboa. A descoberta de duas mandíbulas deste cetáceo fóssil ocorreu durante o Acompanhamento Arqueológico da abertura de valas no âmbito do Projecto "Linhas Eléctricas Enterradas, Lote 3-Troço Alto de S. João/Sacavém a 220kV," promovido pela REN S.A., concretamente na Rua Cidade de Luanda (Concelho de Lisboa, Freguesia de Olivais), por arqueólogos da empresa Novarqueologia, Lda. Dada a relevância do achado, a empresa de arqueologia responsável pelo Acompanhamento Arqueológico contactou o Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-SHN, para que fosse executada uma Sondagem de Diagnóstico, de forma a avaliar o grau de preservação do exemplar, bem como proceder à remoção e registo dos elementos osteológicos presentes.

Consolidação do exemplar
Engazamento para extracção
Mandíbulas, após escavação
Relativamente aos restos fósseis encontrados, estes correspondem a dois sectores mandibulares de um mesmo indivíduo, não estando em ambas preservada a terminação posterior, que incluiria os processos coronóides e angulares. Parte da mandíbula foi fracturada durante o processo de abertura da vala no âmbito deste projecto, ainda que os maiores danos tenham sido causados pela vala para implantação de condutas de gás, já existente. O apreciável estado de conservação, bem com um posicionamento próximo da posição de vida (apenas com ligeiro deslocamento lateral das terminações anteriores bem como uma ligeira vergência para o lado direito) permitiu considerar a hipótese de encontrar mais restos desta baleia fóssil, nomeadamente cranianos. Restos posicionados posteriormente a estas mandíbulas (e.g. vértebras cervicais e dorsais), se preservados, terão provavelmente sido removidos e danificados durante a abertura da vala de colocação de gás. Procederam-se aos trabalhos de escavação e remoção das mandíbulas, e localização de possíveis novos restos, pesquisa que não obteve sucesso. Numa primeira análise, é possível concluir que estamos na presença de uma baleia pertencente à subordem Mysticeti, sendo contudo difícil de determinar a sua família (famílias prováveis: Cetotheriidae, Balaenidae, Balaenopteridae).

Do ponto de vista estratigráfico, os sedimentos que continham estes restos osteológicos correspondem à transição entre o Miocénico médio a superior, mais precisamente aos Calcários de Marvila, com idades atribuídas ao Serrevaliano superior/Tortoniano Inferior (entre 13.65 e 11.60 Milhões de anos).  A sua riqueza em cetáceos fósseis encontra-se já documentada pelos diversos restos fósseis, incluindo diversos crânios parcialmente completos, existentes no Museu Geológico do LNEG.

Esta não foi a primeira cooperação entre o LPP da ALT-SHN e a empresa Novarqueologia, uma vez que em 2007 a equipa do LPP foi chamada a escavar parte de uma tartaruga (Plesiochelis?) do Jurássico superior de Torres Vedras, igualmente numa obra da REN, mostrando claramente que aumenta a consciência e interesse na preservação do Património Paleontológico.