terça-feira, 25 de outubro de 2011

Serra de Montejunto ameaçada

Embora não esteja directamente relacionado com a paleontologia, não podemos deixar de alertar para o perigo que neste momento ameaça a integridade geológica, paisagística e principalmente a biodiversidade da Serra de Montejunto.
Treze anos após a declaração de Área de Paisagem Protegida, a Serra de Montejunto encontra-se ameaçada por um projecto de construção de um parque eólico constituído por mais de vinte aerogeradores que, caso o projecto venha a ser aprovado, irá implantar uma "nuvem" de mais de vinte destas torres por toda a zona das Fontaínhas (vertente Leste da Serra de Montejunto). A zona das Fontaínhas é particularemnte sensível devido às grutas que servem de habitat a morcegos, sendo igualmente de destacar a presença de aves de rapina, entre elas a Águia de Boneli. Além disso é uma zona rica do ponto de vista arqueológico e espeleológico.

Este alerta chegou até nós através do Espeleo Clube de Torres Vedras (ECTV), instituição com longa tradição e currículo no que à valorização e estudo da Serra de Montejunto diz respeito. Na sequência deste alerta decorreu, no sábado passado, dia 22 de Outubro, um encontro com associações de carácter ambiental com vista a não só a divulgar e conhecer melhor, no terreno, a realidade como também para delinear uma estratégia de intervenção cívica que permita sensibilizar a sociedade e os poderes políticos para o que está em risco.

Estiveram presentes representantes do ECTV, da ALAMBI (Associação para o Estudo e Defesa do Ambiente de Alenquer), da ALT - Sociedade de História Natural, e da QUERCUS (Associação Nacional de Conservação da Natureza)


A ALT - Sociedade de História de Natural vê com preocupação e perplexidade não só o projecto em si, mas principalmente o exemplo desta situação que, a concretizar-se, significará a perda definitiva de um património irrepetível. A escolha que está em cima da mesa é esta: ou se tem um parque eólico, ou se tem uma Área de Paisagem Protegida... 

Poderá acompanhar este asssunto a partir do portal da ALAMBI.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

I Congresso de Jovens Investigadores em Geociências, Estremoz (1 a 4/10/2011)


Decorreu nos dias 1,2,3 e 4 de Outubro de 2011 a primeira versão do Congresso Nacional de Jovens Investigadores em Geociências em Estremoz organizado pelo Centro de Ciência Viva de Estremoz e pela Universidade de Évora, contando ainda com a colaboração do GeoClube. A ALT-Sociedade de História Natural (Torres Vedras) em conjunto com investigadores da Universidad Autónoma de Madrid (UAM), Universidade Nacional de Educación a Distancia (UNED) e da Fundação Dinópolis (Teruel) apresentou neste congresso a seguinte comunicação:
Mocho, P.; Ortega, F.; Royo-Torres, R. & Silva, B. (2011): Estado do conhecimento sobre os saurópodes do Jurássico Superior de Portugal. Livro de Actas do I Congresso Nacional de Jovens Investigadores em Geociências, Estremoz:

Resumo: Iniciado no séc. XIX, o estudo dos saurópodes do Jurássico Superior português progrediu paulatinamente até ao final do século XX. Até então, a relação entre o registo fóssil português e o registo do Jurássico Superior da Formação de Morrison (E.U.A.) era consensual. Contudo, estudos recentes revelam que as formas existentes possuem carácter endémico, tendo sido formalizados três táxones: um diplodocídeo, Dinheirosaurus; um representante basal de Macronaria, Lourinhasaurus, e um Titanossauriforme, Lusotitan. O registo fóssil sugere ainda a presença de Turiasauria e um possível Camarasaurus. Futuros estudos filogenéticos são necessários para confirmar as propostas sistemáticas existentes e assim adicionar nova informação para a compreensão do complexo padrão paleobiogeográfico dos saurópodes do Jurássico Superior.


Abstract: The study of the Portuguese Upper Jurassic sauropods began in the 19th century and progressed slowly until the end of the 20th century. Until that time, Portuguese sauropods were related to North American forms (e.g. Apatosaurus and Brachiosaurus). However, recent works have been shown a more endemic status for sauropod fossil record of the Portuguese Upper Jurassic. In last 15 years three new taxa have been formalized: a diplodocid, Dinheirosaurus; a basal macronarian, Lourinhasaurus; and a titanosauriform, Lusotitan. The fossil record also suggests the presence of eusauropods (Turiasauria) and a possible Camarasaurus. Future phylogenetic analyses are needed to properly understand the paleobiogeography of Portuguese Upper Jurassic sauropods.

Este congresso apresentou-se como uma importante iniciativa na organização de um congresso direccionado para os jovens investigadores em geociências, iniciativa que há muito faltava no nosso país. Neste evento participaram ainda vários investigadores convidados de renome nacional e internacional, como por exemplo o Doutor Fernando Noronha da Universidade do Porto. 

Sala de conferências (Foto do Geoclube)

Nos dois últimos dias do congresso ainda houve espaço para duas saídas de campo à Serra do Marão e ao Maciço de Morais (Trás-os-Montes), dirigidas pelo Doutor Carlos Coke (UTAD)  e pelo Doutor José Feliciano (FEUP & LNEG).

 Doutor Carlos Coke (UTAD) na Serra do Marão (foto do Geoclube)

Maciço Morais (Trás-os-Montes) em pleno Ofiolito superior. (Foto do Geoclube)

domingo, 2 de outubro de 2011

Breve síntese sobre a Campanha Paleontológica 2011 (with an english version)

Escavação da Jazida TV_SPC.08
Decorreu de 10 a 25 de Setembro mais uma Campanha Paleontológica levada a cabo pela ALT-Sociedade de História Natural (ALT-SHN). Este ano, procedemos a mais uma escavação de um dinossauro, desta vez em Cambelas. Esta jazida já havia sido intervencionada em 2003, sendo que este ano foi aberto um novo sector. Esta jazida ofereceu restos de um grande saurópode (vértebras, fémur) na anterior campanha aqui executada (em 2003), a par de ossos pertencentes a outros dinossauros de menor porte. As características sedimentares da camada onde se inserem os ossos sugerem uma deposição secundária dos mesmos, ou seja, que os restos destes animais, após enterrados num leito de um rio, terão de novo sido remobilizados, talvez por um episódio de grande energia hídrica (como uma grande cheia), que então removeu esses mesmos materiais e os terão colocado noutra zona. O novo sector intervencionado permitiu definir os limites e extensão da jazida, tendo-se encontrado elementos pertencentes a crocodilos, peixes, dinossauros (herbívoros e carnívoros) e tartarugas.

Identificação e registo de uma nova jazida com dinossauros
Mas as actividades de campo não se restringiram apenas a escavações. Foram ainda realizados trabalhos de prospecção paleontológica, os quais resultaram na descoberta de três novas jazidas com dinossauros, trilhos com pegadas destes últimos animais e outros compostos exclusivamente por pegadas de tartarugas e possivelmente de répteis voadores. Esta ultima descoberta surpreendeu-nos, pois a sua extensão é enorme e é potencialmente adequada a uma musealização in situ. Neste âmbito foram ainda registadas várias jazidas contendo espécimes pertencentes á famosa tartaruga fóssil de Torres Vedras, Selenemys lusitanica. A equipa procedeu ainda à monitorização e minimização de impactes de muitas jazidas do concelho de Torres Vedras, com acesso difícil e cuja escavação é impossível, de forma a ir registando novos vestígios expostos pela erosão das arribas e tentar exumar o máximo de elementos possíveis, de forma que não se percam estes importantes achados e se recupere o máximo de informação científica.

Registo 3D de vestígios paleontológicos
Clique na imagem, para ver levantamento em 3D
A grande inovação deste ano foi, contudo, o inicio da utilização de imagens 3D para registo. Existem centenas de jazidas registadas no Sistema de Informação Geográfico Aplicado à Paleontologia, desenvolvido pelo nosso Departamento de Informação Geográfica, desde trilhos de pegadas a grandes blocos contendo ossos de dinossauros, que em muitos casos estão na linha de influência das marés ou que pela sua localização no fundo das arribas do Concelho são praticamente impossíveis de remover. Para que não se perca essa informação, estamos a proceder ao seu registo tridimensional, para efeitos de salvaguarda e memória futura, estudo científico em laboratório e aplicação em futuros processos museológicos. Estamos muito satisfeitos com a aplicação destas novas tecnologias e estamos a desenvolver parcerias no sentido de explorar ao máximo a sua aplicabilidade no património paleontológico de Torres Vedras. Para além dos membros da ALT-SHN, participaram estudantes de geologia da Universidade de Lisboa e investigadores do Grupo de Biologia Evolutiva da UNED (Madrid, Espanha). 

Os trabalhos foram apoiados pela Câmara Municipal de Torres Vedras, Junta de Freguesia de São Pedro da Cadeira e ainda pela empresa Ângelo Custódio Rodrigues, S.A.

English version

Held from 10 to 25 September over a campaign carried out by Paleontologists of the ALT-Natural History Society (ALT-SHN). This year, we carried out another excavation of a dinosaur, this time in Cambelas (a small village in the west cost of Torres Vedras Municipallity). This quarry had been-intervention in 2003, and this year we opened a new sector. This deposit offered a large sauropod remains (vertebrae, femur) in the previous season here runs (in 2003), the pair of bones belonging to other smaller dinosaurs. The characteristics of the sedimentary layer where the bones fall suggest a secondary deposition of these, namely, that the remains of these animals after buried in a riverbed, have been remobilized again, perhaps an episode of major hydropower (as a great flood), which then removed these same materials and have placed in another area. The new sector-intervention defined the limits and extent of the deposit, having been found items belonging to crocodiles, fish, dinosaurs (herbivores and carnivores) and turtles.
But the field activities were not restricted only to excavations. Have been conducted paleontological prospecting work, which resulted in the discovery of three new quarrys with dinosaurs, footprints of the latter, tracks with other animals composed exclusively of tracks of turtles and possibly flying reptiles. This last finding surprised us, because its extent is enormous and is potentially suitable for a museum acquisition in situ. In this context were also recorded several deposits containing specimens belonging to the famous turtle fossil of Torres Vedras,
Selenemys lusitanica. The team also proceeded to monitoring and minimizing the impacts of many fossil sites in the municipality of Torres Vedras, with difficult access and where excavation is impossible, in order to get new recording remains exposed by erosion of the cliffs and try to exhume as many elements as possible, in so do not miss these important findings and recover as much scientific information.
3D Registration of paleontological remains
The major innovation this year, however, was the beginning of the use of 3D images on the field. There are hundreds of vertebrate fossil sites recorded in the Geographic Information System Applied to Paleontology, developed by our Department of Geographic Information, tracks of footprints, large block containing dinosaur bones, which in many cases are in line tidal or by location at the bottom of the cliffs of the County are virtually impossible to remove. Not to miss this information, we proceed to the 3D for the purpose of safeguarding and future memory, scientific study in the laboratory and museum application in future cases. We are very pleased with the application of these new technologies and are developing partnerships in order to fully exploit its applicability in the paleontological heritage of Torres Vedras. In addition to the members of the ALT-SHN, participated on these field works geology students attended the University of Lisbon and researchers of the Evolutionary Biology Group at UNED (Madrid, Spain).
The work was supported by the city of Torres Vedras, Parish of São Pedro da Cadeira and the company Ângelo Custódio Rodrigues, SA