Representação, de meados do Séc. XIX, de vários tipos de Kappas |
São muitos os seres "atartarugados" que formam parte
da mitologia e ficção de diversas culturas. Provavelmente muitos dos nossos leitores
conheçam a Gameira, a tartaruga gigante voadora que rivalizou com Godzilla no
cinema japonês. No entanto, a cultura japonesa conta com outro personagem “atartarugado”,
protagonista de muitas histórias do folclore desse país. Trata-se, nada mais,
nada menos, dos Kappas. Mas, que demónios são os Kappas?
Os
kappas são umas criaturas travessas e geralmente
maléficas, de especto humanoide, cobertas de escamas, com cabeça que recorda a
de uma tartaruga e com uma espécie de couraça dorsal, muitas vezes representada
como uma carapaça deste grupo de repteis.
Kappas saciando o seu apetite |
Mas
que pepinos (sendo que este vegetal é
para os kappas um dos poucos manjares mais suculentos que meninos humanos) têm
que ver estes seres com Portugal? Pois bem, a origem desse nobre é considerado
como uma transliteração da palavra portuguesa “capa”, um termo empregue para
denominar a treliça de vestir que os monges portugueses que chegaram ao Japão
no Séc. XVI levavam às costas. A cabeça rapada destes monges e as suas costas cobertas
por esta estranha indumentária deve ter surpreendido muito os habitantes
Japoneses.
Os Kappas, fazendo das suas |
Carapaça,
em vistas dorsal e ventral, do holótipo do novo táxon (SHN.LPP 172) |
Agora que já sabemos o que é um kappa, e como se
relaciona com Portugal, passamos a apresentar, de maneira preliminar, o novo táxon
recém descrito no registo fóssil português. Acaba de ser publicado, na versão on line
da revista científica Comptes Rendus Palevol, um artígo no qual se descreve uma
nova espécie de tartaruga do Jurássico Superior: Hylaeochelys kappa, e proveniente da Colecção Paleontológica da
Sociedade de História Natural. O registo de tartarugas
do Jurássico da Bacia Lusitânica é tido como relativamente diverso, destacando os
membros de Paracryptodira (como a tartaruga aqui descrita Selenemys lusitânica,
igualmente da colecção da SHN), assim como vários representantes do grupo de
eucryptodiras basais Plesiochelyidae. A nova tartaruga, que aumenta ainda mais
este registro, também se trata de um representante basal de Eucryptodira, mas
não atribuível a Plesiochelyidae, mas sim a Hylaeochelys. O género Hylaeochelys
era, até agora, unicamente conhecido no Cretácico Inferior de Inglaterra, onde
estava representado por uma única espécie. A descrição da nova Hylaeochelys
kappa não só compreende o primeiro achado confirmado de Hylaeochelys fora
do registo britânico, senão que representa o único género de Eucryptodira
europeia com una distribuição que abarca tanto níveis do Jurássico como do
Cretácico.
Referencia: Adán Pérez-García; Francisco Ortega.
In press. A new species of the turtle Hylaeochelys (Eucryptodira)
outside its known geographic and stratigraphic ranges of distribution. Comptes
Rendus Palevol. http://dx.doi.org/10.1016/j.crpv.2013.10.009
Este estudo foi apoiado parcialmente pela Câmara Municipal de Torres Vedras e empresa Ângelo Custódio Rodrigues S.A
Este estudo foi apoiado parcialmente pela Câmara Municipal de Torres Vedras e empresa Ângelo Custódio Rodrigues S.A
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