Muito poderíamos escrever sobre este dinossauro e muitas palavras fluiram
nos últimos meses sobre as numerosas horas perdidas procurando a identidade
desconhecida (ou quase) de Lourinhasaurus alenquerensis, um dos saurópodes
mais "problemáticos" do registo fóssil português. Por isso, hoje tentaremos
dar novas respostas e, por sua vez, abrir novas questões com a revisão deste
taxon.
Lourinhasaurus alenquerensis foi achado em Alenquer
(Portugal) pelo geólogo norte-americano Harold Weston Robbins. Em 1957, este
saurópode foi publicado por Albert de Lapparent e Georges
Zbyszewski como uma nova espécie de Apatosaurus: Apatosaurus alenquerensis. Após esta publicação
já se disseram muitas coisas sobre este material, mas muito pouco sobre a sua
verdadeira identidade.
Em 1998, o estudo de material clássico e uma nova descoberta em Porto Dinheiro
(Lourinhã), possibilitou a Pedro Dantas (Sociedade de História Natural e
MNHN/UL) e colaboradores definir um novo género, Lourinhasaurus. No entanto, um ano
depois, uma nova análise por parte de José Bonaparte e Octávio Mateus revelou
que o material descoberto em Porto Dinheiro tinha características morfológicas
distintas do saurópode de Alenquer, permitindo a definição do primeiro saurópode
diplodocídeo europeu: Dinheirosaurus lourinhanensis.
Ísquios de Lourinhasaurus alenquerensis |
Depois deste último trabalho, pouco mais se fez em relação a este taxon, e
o saurópode do Moinho do Carmo ficou esquecido como um saurópode problemático.
Numa investigação conjunta que conta com a participação da Sociedade de
História Natural (Torres Vedras, Portugal), Universidad
Autónoma de Madrid (Espanha),
o Grupo de Biologia Evolutiva da UNED (Madrid, Espanha) e a Fundación Conjunto Paleontológico de Teruel-Dinópolis
(Espanha), publica-se hoje (20-02-2014) um trabalho da autoria de Pedro Lopes
Mocho, Rafael Royo-Torres e Franscisco Ortega, que é um novo esforço para
compreender o saurópode mais completo do Jurássico Superior Português. Incorporando Lourinhasaurus numa ampla análise filogenética de
saurópodes, concluiu-se que este dinossauro pode ser atribuído ao grupo
Camarasauromorpha. Para Além da sua posição como camarasauromorfo basal, este
estudo suporta a existência de Camarasauridae como um grupo monofilético, composto
por Lourinhasaurus, Camarasaurus e Tehuelchesaurus.
Fémur de Lourinhasaurus alenquerensis (Museu Geológico e Mineiro, Lisboa) |
A revisão do material clássico da jazida de Moinho do Carmo, depositado noMuseu Geológico de Lisboa, ao que se juntou a descrição de material inédito, permitiu recompilar dados importantes para esta reavaliação sistemática, e dar um passo mais em direcção a uma melhor compreensão dos saurópodes do Jurássico Superior. Não obstante, futuras análises provarão a robustez destes resultados e incrementarão todavia mais informação sobre este saurópode, o primeiro camarasauroídeo identificado na Europa. Este novo trabalho foi publicado na revista científica Zoological Journal of the Linnean Society.
Para mais informação:
Referencia: Mocho, P.; Royo-Torres, R.; Ortega, F. (2014). Phylogenetic reassessment of Lourinhasaurus alenquerensis, a basal Macronaria (Sauropoda) from the Upper Jurassic of Portugal. Zoological Journal of Linnean Society. DOI: 10.1111/zoj.12113
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