sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Selenemys lusitanica, género e espécie novos de tartaruga do Jurássico Superior, descoberta em Torres Vedras

Uma das áreas europeias que mais informações estão a proporcionar sobre as faunas que viveram no Jurássico Superior é a região centro-oeste de Portugal. Os seus fósseis  permitem-nos conhecer alguns dos grupos de animais que povoaram a Europa no momento em que  estava a ocorrer a separação deste continente e a América do Norte, mediante a abertura do Atlântico Norte. Tem-se observado que existem dinossauros partilhados por ambos continentes (como provam Allosaurus sp. e Camptosaurus aphanoecetes de Torres Vedras), enquanto existem outros que exibem uma distribuição europeia, ibérica ou inclusivamente endémica. No entanto, o que se passava com outros grupos de repteis de menor tamanho? Habitariam também em ambos continentes ou em cada um deles tinham surgido novas formas? Graças a um novo holótipo da Colecção Paleontológica de Referência da ALT-Sociedade de História Natural de Torres Vedras, é possível começar a responder a essas perguntas.
Imagem do Holótipo ALTSHN.0066
O registo de tartarugas do Jurássico Superior português é muito abundante, sendo que apenas agora começou a ser devidamente estudado, por elementos do Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da ALT-Sociedade de História Natural (ALT-SHN), da Universidade Complutense de Madrid e UNED. Como parte dos resultados obtidos nesta análise, acaba de ser definido, através de uma publicação na revista Journal of Vertebrate Paleontology, um novo género e nova espécie de tartaruga, Selenemys lusitanica, que viveu no final do Kimmeridgiano (145 Milhões de anos) e descoberta durante a escavação paleontológica de um dinossauro levada a cabo pela ALT-SHN, em 2003, na Praia de Santa Rita, Torres Vedras. Trata-se de um pleurosternídeo, grupo de quelónios de água doce que viveram na América do Norte e Europa entre 165 e 60 milhões de anos. O registo europeu deste grupo de tartarugas era, até agora, muito limitado. A nova tartaruga é o género mais antigo conhecido na Europa. O seu estudo não só contribui com valiosa informação sobre a evolução deste grupo no continente Europeu, como também é relevante desde o ponto de vista biogeográfico. Durante o Mesozóico, a distribuição das tartarugas diferia significativamente da dos dinossauros, provavelmente devido a barreiras que restringiam a dispersão dos mais pequenos representantes das associações faunísticas. Neste sentido, o estudo das tartarugas é muito importante dado que são bons indicadores de descontinuidades geográficas. Devido a que os pleurosternídeos estavam presentes tanto na América do Norte como na Europa, o estudo dos representantes conhecidos permite obter novas pistas para entender como eram as relações faunísticas em ambos os lados do recém gerado Oceano Atlântico.
Deste estudo deduz-se que Selenemys estava mais proximamente aparentado com ouros taxa europeus que com as formas sincrónicas americanas, seguindo um padrão de distribuição vicariante. Esta evolução separada em ambos continentes, gerando espécies próprias em cada um deles, contrasta com a descrita para outros grupos de vertebrados, especialmente com alguns dinossauros.Provavelmente isto ter-se-à devido à limitada capacidade de dispersão das tartarugas. Informações adicionais podem ser lidas aqui.

O Holótipo de  Selenemys lusitanica pertence à Colecção Paleontológica de Referência da ALT-Sociedade de História Natural.
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Referencia: Pérez-García, A. and Ortega, F. 2011. Selenemys lusitanica, gen. et sp. nov., a new pleurosternid turtle (Testudines: Paracryptodira) from the Upper Jurassic of Portugal. Journal of Vertebrate Paleontology, 31 (1): 60-69.


Este estudo foi apoiado pela Câmara Municipal de Torres Vedras, empresa Ângelo Custódio Rodrigues S.A. e Projecto PTDC/ CTE-GEX/ 67723/ 2006 “Estudo da Fauna de Vertebrados do Jurássico Superior da Bacia Lusitânica e Implicações Paleobiogeográficas (VERT-JURA) financiado pela “Fundação para a Ciência e a Tecnologia” (Portugal)

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