Entre os dias 7 e 10 de Julho, celebrou-se em Lisboa o III Congresso Ibérico de Paleontologia, coincidindo com as XXVI Jornadas da Sociedade Espanhola de Paleontologia, que decorreram na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (vide posts anteriores sobre a organização conjunta deste congresso neste blogue). Os trabalhos ali apresentados trataram de temáticas muito variadas, resultantes de investigações de portugueses e espanhóis. Assim, apresentaram-se vários trabalhos referentes a tartarugas fósseis, analisando-se num deles exemplares do Jurássico Superior de Portugal, concretamente do Concelho de Torres Vedras e pertencentes á Colecção de Referência da ALT-Sociedade de História Natural (ALT-SHN).
O registo de vertebrados fósseis do Jurássico Superior de Portugal é muito abundante. Ainda que os dinossauros tenham sido os mais estudados, outros grupos de répteis, que têm recebido menos atenção, estão também bem representados. Um desses grupos são os quelónios e, ainda que o seu estudo esteja numa fase muito inicial, já se identificaram várias famílias que habitavam diversos ambientes. No Concelho de Torres Vedras são muito abundantes os sedimentos da bacia Lusitânica datados do Jurássico Superior, mais concretamente no lapso Kimmeridgiano-Titoniano. Nesses sedimentos têm-se identificado numerosos restos de tartarugas, desde elementos isolados a exemplares relativamente completos. Reconhecem-se representantes de dois grupos de Pancryptodira: Pleurosternidae e Plesiochelyidae. Ainda que se tenha registado a ocorrência de Pleurosternidae em vários afloramentos de Torres Vedras, destacam-se os achados realizados no Kimmeridgiano superior de Santa Rita (Maceira) descobertos e escavados em 2003. O material pertencente a pleurostérnidos previamente reconhecidos na Península Ibérica eram até ao momento compostos por restos desarticulados e isolados. Não obstante, neste afloramento recolheu-se material articulado ou com ligeira dispersão, identificando-se um carapaça relativamente completa, a qual se atribui a um novo grupo.
Plesiochelyidae, grupo endémico do Jurássico europeu, está representado em Torres Vedras por numerosos exemplares desarticulados mas também por algumas carapaças que preservam uma alta percentagem dos seus elementos. É o caso, por exemplo, de um exemplar procedente do Titoniano de Ulsa (Cambelas). Este exemplar, interpretado como um indivíduo adulto ou sub-adulto possui umas placas relativamente grossa e carece de fontanela plastral central. Em vários afloramentos de Torres Vedras acharam-se placas plastrais grossas e sem fontanelas, com uma morfologia similar ao do exemplar da Praia da Ulsa, junto com outras também atribuídas a Plesiochelyidae que, com um tamanho similar, têm muito menor espessura e apresentam os bordos de uma fontanela hio-hipoplastral bem desenvolvida. Comparando as placas de ambos os morfótipos de tamanhos similares, as notáveis diferenças na espessura e a correlação da presença de amplas fontanelas, assim como as diferenças morfológicas, permitem a interpretação que ambas não pertençam a um único taxón.
O estudo do material da Colecção de Referência da ALT-SHN e a revisão do restante material português não só permitirá conhecer a diversidade de quelónios do Jurássico Superior de Portugal, mas também integra-lo no contexto paleobiogeográfico ibérico e europeu.
Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do projecto de investigação VERT-JURA PTDC/CTEGEX 67723/2006 financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, e com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras e empresa Ângelo Custódio Rodrigues, S.A.
Referencia: Pérez-García, A., Ortega, F. y Silva, B. 2010. Análisis preliminar de la diversidad de quelonios del Jurásico Superior de Torres Vedras (Portugal). Publicaciones del Seminario de Paleontología de Zaragoza (SEPAZ), 9: 235-238.
Palavras-chave: Jurássico superior, Torres Vedras, tartarugas, Pleurosternidae, Plesiochelyidae
Em ultima análise, foi um grande encontro, pelo que damos os nosso parabéns à organização (que acreditamos ter sido super complexa) e pela forma maravilhosa em que tudo funcionou. Esperamos novos congressos....contem connosco!
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